Com um espetáculo musical que narra a história da língua portuguesa e reverencia grandes nomes da literatura, o Rio de Janeiro deu largada, nesta quarta-feira, à programação oficial como Capital Mundial do Livro 2025. O título, concedido pela Unesco, foi entregue ao prefeito Eduardo Paes pelas mãos da prefeita de Estrasburgo, Jeanne Barseghian, durante evento no Teatro Carlos Gomes, no Centro. A cidade é a primeira de língua portuguesa a conquistar o reconhecimento internacional.
— É um ano fundamental. O Rio já foi capital de muita coisa. Agora, é capital dos leitores — afirmou Paes. — Temos o Real Gabinete Português, a Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras. Os grandes escritores brasileiros todos passaram por aqui. Vamos ter Bienal, o Prêmio Jabuti pela primeira vez aqui, projetos de incentivo à leitura nas estações do BRT e nas clínicas da família. É um valor simbólico imenso.
Já a prefeita Jeanne Barseghian agradeceu a passagem de bastão:
— Estamos convictos de que o acesso ao livro e à leitura democratiza a sociedade. Estou muito feliz de passar o bastão a vocês.
A escolha da cidade se deu com base em um plano de ação que vai do incentivo à leitura nas escolas até a valorização de iniciativas culturais nas comunidades. Até abril de 2026, a prefeitura promete transformar o município em um palco permanente para livros, autores e leitores.
Na Bienal do Livro, principal vitrine literária do país, a aposta é ambiciosa. A edição deste ano quer ir além do papel e transformar o Riocentro em um parque temático da literatura:
— A Bienal vem mais incrível do que nunca. Ela se transforma num “book park”, um parque de atrações literárias. Vamos ter roda-gigante com cabines temáticas, como a da Turma da Mônica; labirintos com universos da ficção; escape rooms inspirados em Agatha Christie e Raphael Montes; além do nosso tradicional Café Literário, que completa 25 anos — explicou Tatiana Zaccaro, realizadora do evento. — Trabalhamos junto com a Prefeitura e a Secretaria de Cultura para viabilizar essa candidatura. É uma conquista coletiva.
Durante a cerimônia que marcou o início oficial do título de Capital Mundial do Livro, o Rio de Janeiro apostou em uma celebração que misturou tecnologia, literatura e expressões artísticas populares. Um dos momentos mais marcantes foi o uso de inteligência artificial para simular citações de grandes escritores, exibidas em uma página em formato de livro projetada em tela. O recurso tecnológico deu um tom contemporâneo à homenagem a figuras centrais da literatura, conectando passado e futuro na mesma narrativa.
O evento também foi permeado por performances artísticas que traduziram a diversidade cultural da cidade. A abertura ficou a cargo do ator Thiago Lacerda. O evento reuniu ainda o ator e humorista Gregório Duvivier; a atriz e poetisa Elisa Lucinda; e o cantor Toni Garrido, que prestou uma homenagem a Machado de Assis, reverenciado como gênio literário carioca. Elisa emocionou o público ao recitar versos em tributo à escritora Cecília Meireles.
No palco, a literatura ganhou corpo, ritmo e voz. A dança também teve espaço — com direito a passos de funk — e a música foi representada pela cantora Fernanda Abreu, que interpretou “Jorge de Capadócia”, em referência a São Jorge, o santo guerreiro e padroeiro do Estado do Rio, celebrado nesta quarta-feira.
A combinação de linguagens artísticas e tecnologia não apenas destacou a riqueza cultural da cidade, como reforçou a proposta de um ano inteiro dedicado à valorização da leitura como experiência viva, plural e acessível.
O plano apresentado à Unesco também se destacou pelo foco na inclusão. Isabel de Paula, coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, afirmou que o compromisso com o acesso democrático ao livro foi decisivo para o título.
— O Rio é uma cidade potente na produção cultural. Já fazia parte da rede de cidades criativas da Unesco no campo da literatura. Mas essa candidatura apresentou um plano robusto, com ações de leitura e inclusão social. A cultura, além de promover cidadania, movimenta a economia — disse a coordenadora de cultura da Unesco Brasil, Isabel de Paula.
Nomeada como uma das escritoras homenageadas no evento, Conceição Evaristo emocionou a plateia ao relembrar sua trajetória e o papel da literatura na vida de quem vem das camadas populares.
— Eu venho das classes populares, e a gente sabe da dificuldade de acesso ao livro, à leitura e à escrita. Me sinto homenageada e desejo que esse título ajude o Rio a entender que a leitura é um direito cidadão, um direito de todas as classes sociais — defendeu.
A cerimônia teve ainda homenagens a autores como Chico Buarque, Monteiro Lobato, Ziraldo, Maurício de Sousa, Luiz de Camões e Machado de Assis.
— É difícil dizer o que é real e o que é literário. O Rio respira cultura --- disse o ator Thiago Lacerda.
Com mais de 200 atividades previstas ao longo do ano, em escolas, bibliotecas, praças, centros culturais e equipamentos públicos, o Rio inicia agora um capítulo inédito de sua história: o da leitura como bem coletivo.
Confira o calendário de eventos
- Em abril: Início da campanha visual com a frase “Rio Capital Mundial do Livro” nos painéis de LED dos ônibus do BRT e instalação de estantes de troca de livros nos terminais Deodoro, Gentileza, Curral Falso e Alvorada.
- Bienal do Livro de 13 a 22 de junho: Evento terá o tema "Book Park — parque literário" com experiências imersivas.
- Atrações: Roda-gigante literária; Labirinto de histórias; Escape rooms temático; “Leitura nas Alturas” (cabines de leitura personalizadas); “Praça Além da Página” (shows e debates); “Páginas na Tela” e “Páginas no Palco”; Biblioteca Fantástica (infantil); Café Literário com curadoria de Lázaro Ramos, Flávia Oliveira e Luiz Antonio Simas. Autores confirmados: Itamar Vieira Junior, Elisa Lucinda, Tati Bernardi, Brynne Weaver, entre outros.
- Ingressos: R$ 42 (inteira), R$ 21 (meia); professores e bibliotecários têm entrada gratuita; Roda-gigante: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia).
Durante todo o ano: Circulação da Caixa Literária da Língua Portuguesa, com obras de autores de países lusófonos. Concursos, feiras e prêmios literários ao longo de 2025 (datas a confirmar).
Novembro (data a definir pela prefeitura): Prêmio Jabuti é celebrado pela primeira vez no Rio.
Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/04/23/rio-e-a-capital-mundial-do-livro-e-da-inicio-a-ano-de-celebracoes-literarias-com-espetaculo-e-homenagens.ghtml