
Olhar distante
ESTOCOLMO, Suécia. Estou aqui na reunião anual de ex-presidentes e chefes de governo para analisar a atual situação do mundo. A ela comparecem experts em todos os temas.
ESTOCOLMO, Suécia. Estou aqui na reunião anual de ex-presidentes e chefes de governo para analisar a atual situação do mundo. A ela comparecem experts em todos os temas.
JÁ QUE O assunto é a Copa e a escolha do Brasil para realizá-la em 2014, vou entrar na onda. O anúncio da decisão da Fifa teve ares de feito nacional, com direito à presença do presidente da República, ministros, governadores dos maiores Estados da federação, além de uma comitiva menos votada de parlamentares, cartolas e sem-ingresso. Romário substituiu Pelé e deixou um enigma no ar: se vai ser ou não candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro, deixando a bola pelo bolo eleitoral.
DOM MIGUEL de Unamuno foi um dos pensadores mais populares da minha geração. Seus livros eram lidos, aprendidos e meditados quando éramos moços. Um deles, na minha primeira mocidade, ginasiano, causou-me grande impressão e maior influência. Chama-se "O Sentimento Trágico da Vida". Ele fala sobre a busca humana da imortalidade, de ser eterno, em como fugir da morte, dos sistemas teológicos e filosóficos que nos apontam para a imortalidade da alma, até a ressurreição cristã, de voltar "com as próprias vestes". Desse livro, ficou na minha memória sua afirmação de que a pergunta mais profunda do Novo Testamento é a de Pilatos: "O que é a verdade?".
José Sarney tomou a si, afinal, responder a injúria continuada do governo de Chávez contra o Brasil. Não há precedentes da repetição de agressões contra o país concentrada no Senado a ser chamado de lacaio ou serviçal do imperialismo e das concertações de Washington. Não temos precedentes de uma escalada verbal que vai a órgão da soberania nacional exatamente responsável pela última chancela à nossa política externa.
Na minha infância, a teoria certa e acabada era que vínhamos dos macacos. Com o tempo, eu cresci e fui aprendendo outra teoria: que os macacos eram nossos primos, mas não eram nossos pais. Afinal, o certíssimo é que somos da mesma família. Agora mesmo, com a persistência dos cientistas, estamos a descobrir que esses parentes são melhores do que nós em matemática. Devem ser, também, em outras coisas. Dos japoneses já batem na memorização seqüencial.
AS FESTIVIDADES do fim do ano foram manchadas pela onda de violência que assola o país. Nas pesquisas de opinião pública, a segurança passou a ser a primeira preocupação do povo.
ADRIANO Moreira, grande sábio e mestre português, ainda hoje na ativa, presidindo a Academia de Ciências de Lisboa, da qual foi secretário perpétuo José Bonifácio, foi ministro de Ultramar de Salazar. Contou-me que, quando comunicou ao presidente que tinham descoberto petróleo em Angola, onde grassava uma revolta civil, este exclamou: "Só nos faltava essa: petróleo em Angola!".
A monstruosidade do terrorismo é a gratuidade da violência. O sofrimento que se impõe a pessoas que nada têm com as ideologias e lutas em disputa. Pela causa, cria-se uma hipoteca para matar, torturar e fazer tudo que contém a palavra mal.
A luta política violenta e irracional que tivemos no Maranhão, quando abandonamos a discussão dos problemas do estado para fixarmos todo o debate no terreno pessoal, vai atrasar o Maranhão por muitos anos.
HELMUT SCHMIDT, talvez o homem mais brilhante que eu conheci, em uma reunião em Salzburgo do InterAction Council, conselho mundial de ex-presidentes e chefes de governo, do qual eu participo, fez uma exposição sobre o mercado financeiro, o primeiro setor da economia a globalizar-se. Falou sobre o gigantesco volume de capital que gira nas Bolsas de Valores, dia e noite, comandadas mais pelos computadores com seus programas inteligentes do que pela vontade dos homens e investidores, concluindo que suas ações representam dez vezes mais que a economia real.
LUÍS VIANA Filho, o grande biógrafo de Rui, Rio Branco, Eça e Nabuco, disse-me que, ao encontrar-se com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Lincoln Gordon -que se tornou célebre porque seu período coincidiu com a queda do Jango em 1964-, quando já não ocupava mais o posto, este lhe observou que uma coisa o impressionara muito na sua passagem aqui: as escolas de samba. Uma maravilha sem igual no mundo. Não sabia como era possível seu funcionamento. Era a alegria, a beleza, a diversidade de pessoas, uma Torre de Babel que oferecia uma impressão do caos, na chamada concentração. De repente, tudo se transformava. Tocava o apito com a ordem de entrar na avenida e, num movimento perfeito, o conjunto dava um banho em qualquer planejamento, e desfilavam como se tudo fosse milimetricamente orquestrado. A bendita improvisação brasileira, que do caos faz nascer a harmonia e o desfile. Isso explicava o Brasil.
Luís Viana Filho, o grande biógrafo de Rui, Rio Branco, Eça e Nabuco, disse-me que, ao encontrar-se com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon - que se tornou célebre porque seu período coincidiu com a queda do Jango em 1964 -, quando já não ocupava mais o posto, este lhe observou que uma coisa o impressionara muito, na sua passagem aqui: as escolas de samba. Uma maravilha sem igual no mundo. Não sabia como era possível seu funcionamento. Era a alegria, a beleza, a diversidade de pessoas, uma Torre de Babel que oferecia uma impressão do caos, na chamada concentração. De repente, tudo se transformava. Tocava o apito com a ordem de entrar na avenida e, num movimento perfeito, o conjunto dava um banho em qualquer planejamento, e desfilavam como se tudo fosse milimetricamente orquestrado. A bendita improvisação brasileira que do caos faz nascer a harmonia e o desfile. Isso explicava o Brasil.
Passa o Carnaval e temos de sair do sonho da alegria para a realidade que nos cerca. Com um mundo globalizado, tudo que se passa em qualquer lugar e em qualquer hora está dentro de nossa casa. Já longe estão os tempos das Cartas de Inglaterra do Eça de Queiroz, em que o importante é o que ocorre na esquina.
TINHA ME programado para escrever nesta minha "Sexta-feira, Folha" sobre as eleições americanas. Os surpreendentes Estados Unidos, onde, quando as flores murcham, como ocorre com a imagem do governo Bush, nascem, em meio a uma visão sombria, novas fronteiras de idéias, onde se fala em esperança e mudança, um novo tempo Kennedy. Surge um furacão: um candidato negro, filho de muçulmano, de sobrenome Obama e, como se não bastasse, ajunta o nome hebraico de Barack, do profeta Baruc. Para fortalecer a imagem de um país de oportunidades, tem o contraponto de uma mulher brilhante que é Hillary Clinton e de um velho simpático, McCain, que esconde no gingado do falar o conservadorismo republicano. Isso faz anestesiar um pouco o debate sobre o desastre da Guerra do Iraque e a recessão que se aproxima.
Fidel Castro, depois de 50 anos no comando de Cuba, anuncia que seu corpo não mais suporta a sua vontade, que seria de ficar no poder até "o desenlace adverso" de que ele fala em sua carta de renúncia. Invocou o nosso glorificado Oscar Niemeyer para dizer que devemos perseverar até o fim.